terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O turismo dos oficiais


Oficiais da Polícia Militar de Pernambuco gastarão R$ 900 mil para conhecer políticas públicas adotadas por governos no âmbito da segurança pública. Quando voltarem, serão recebidos pelos praças nos quartéis, contarão a viagem aos seus amigos e parentes, e a rotina policial continuará a mesma. Mas não só a rotina!
O contexto social em que os oficiais irão atuar será o mesmo de antes. Praças reclamando das condições de trabalho e da forma que alguns oficiais lhe tratam; muitos oficiais sem desenvolver ações de policiamento ostensivo; alta freqüência de homicídios na Região Metropolitana do Recife.
As viagens dos oficiais fazem parte da rotina da PMPE. Após as inúmeras viagens ocorridas, alguma coisa mudou no sistema de segurança de Pernambuco? Não. Os problemas continuam os mesmos. Deste modo, as viagens “acadêmicas” dos oficiais contribuem apenas para que eles conheçam outros países.
O tour dos oficiais precisa trazer resultados. Ações devem ser realizadas após o retorno. Os oficiais precisam olhar bem o funcionamento da Polícia Militar paulista. Lá, oficiais fazem policiamento ostensivo. Não são apenas as praças que fazem. Em Bogotá, os policiais são respeitados pela população, pois independente de quem seja, a Lei é aplicada pela Polícia. Nos países da Europa, a instituição policial faculta a ascensão profissional a todos os seus membros, ao contrário das policias militares brasileiras.
Certamente, nos países europeus e na Colômbia, os batalhões, os quais precisam de grande quantidade de policiais, não serão encontrados. Inclusive, é importante que os oficiais observem como funciona a estrutura administrativa das polícias nos vários países. Caso encontrem alguma estrutura mais enxuta do que a dos batalhões existentes em Pernambuco, proponham a implementação aqui.
As políticas de enfrentamento aos homicídios aplicadas nas cidades de São Paulo, Bogotá e Medellín devem ser copiadas para Pernambuco. Os oficiais não devem ter receio de proporem estas políticas à secretaria de Defesa Social. Porém, a implantação destas é difícil, pois enfrentar os interesses corporativos das policiais é tarefa árdua. Nem todos se dispõem.
As práticas policiais e modelos de Polícia encontrados em outros países não são possíveis de serem implantados em Pernambuco. As resistências, caso alguém tente fazer isto, será grande, principalmente na PM. Já pensou alguém propor a redução do número de hierarquias da PM? Já pensou um major junto com um soldado na rua? Portanto, pergunto: o que os oficiais farão nesta viagem? Turismo, inocentes!

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo perfeitamente, essas viagens poderiam ser mais lucrativas e menos onerosas para a população se os nossos políticos tão "viajados" usassem o conhecimento adquirido em outras nações aqui, mas não é possível que de tantos lugares visitados, não se tenha aproveitado nada. Realmente a nossa política de segurança precisa mudar, agir corretamente, nos moldes adequado a nossa realidade, se os filhos não respeitam mais pai e mãe, dirá a polícia. Tudo muito bem colocado.

Anônimo disse...

Não sou adivinho mas sou desconfiado. Só posso falar sobre a aplicabilidade do aprendizado na viagem após o regresso dos oficiais e observar os seus comportamentos. Depois, na rotina destes, vamos ver se aprenderam algo diferente e se irão aplicar em Pernambuco. DESCONFIO que a forma de pensar não vai mudar muito. Por enquanto é só desconfiança, até mesmo porque não sou adivinho, mas sou desconfiado. Arnaldo Lima.

Unknown disse...

A Associação dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos da Polícia e Bombeiro Militar de Pernambuco (AOSS), esclarece que a chamada "viagem de estudo", sempre ocorreu com os gestores (comandantes de unidade e chefes) aos concluírem cursos de aperfeiçoamento ou formação, como ocorre com os oficiais da Marinha do Brasil, que ao concluírem o curso fazem um giro (tour) pelo mundo, com vistas a incorporar novas experiências e agregar valor à formação com as trocas, os intercâmbios que ocorrem nestes eventos.

Devemos perceber que não se trata de uma mera “viagem turística”, e sim uma Missão Oficial, onde os oficiais superiores que concluíram o Curso Superior de Polícia 2008 (CSP/2008), o qual não ocorria desde 2002, ficarão longe das famílias e outros compromissos, para cumprir o roteiro do curso e assim conhecer novas técnicas, equipamentos e a cultura em geral, com os comportamentos sociais de cada local a ser visitado.

Concluindo, precisamos observar que a evolução dos povos, assim como da segurança se dá com educação e qualificação, e isso sim é o que está acontecendo aqui, não se trata de “lazer” e sim de trabalho e sacrifício, estes homens e mulheres que hoje são aqui citados, deram os melhores dias de suas vidas pelas corporações, suas juventudes, suas forças, lágrimas, suor e vitalidade, todos possuem mais de 20 anos de serviço, sempre à frente da tropa, merecem um mínimo de respeito.

“A Polícia é o termômetro que mede o grau de civilização de uma sociedade.”

Otto Von Bismarck – Filósofo e Estadista Alemão


Recife, 21 de Fevereiro de2008

Vlademir Assis – Presidente da AOSS
www.aoss.org.br
F.: 81-9224-6594

Anônimo disse...

A viagem de estudo é imprescindível para a ampliação da visão dos recém-formados. Ter a oportunidade de conhecer como outros povos estão enfrentando problemas similares é uma forma de ampliar a capacidade de agir com eficácia em seu torrão natal. Por outro lado, os princípios que norteiam a administração pública devem ser rigorosamente respeitados. Para isso tanto as contas, como os relatórios, agendas de trabalho, e outros dados referentes à viagem devem ser transparentes a qualquer cidadão. Finalizando, achei um tanto ingênua a idéia de que, logo após, uma viagem de estudos, já se esperem de imediato contribuição "visíveis". O conhecimento necessita de maturação, antes de se tornar aplicável. Por isso, o que se deve exigir dos oficiais que viajam é o compromisso de cumprir uma agenda séria e de compartilhar suas descobertas com os integrantes da Corporação.