quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Enfrentamento ao tráfico

Folha de São Paulo, 14/02/2008
Para Kassab, cracolândia não existe mais

Prefeito disse ontem que situação já é completamente diferente; ontem à tarde, Folha flagrou 32 crianças usando crack.
Na semana passada a reportagem já havia registrado consumo de drogas na área, alvo de intervenção da prefeitura.
Apu Gomes/Folha Imagem

Usuários de drogas se concentram na divisa com a área conhecida como cracolândia, no centro
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou ontem que a região conhecida como cracolândia, no centro de São Paulo, não existe mais. "Não, não existe mais a cracolândia. Hoje existe uma situação completamente diferente daquela que existia três anos atrás. Hoje é uma nova realidade", declarou.Mas tanto na região onde a prefeitura há três anos iniciou um projeto de revitalização, quantos nas ruas ao redor, o consumo de drogas continua explícito, especialmente crack. Na tarde e na madrugada de ontem, a Folha percorreu a cracolândia, ou a região da Nova Luz, como Kassab prefere chamar, e flagrou dezenas de pessoas consumindo drogas.Às 17h de ontem, por exemplo, na rua dos Gusmões, a um quarteirão da área de intervenção da prefeitura, a Folha contou, além de vários adultos, 32 crianças e adolescentes -cada um com seu cachimbo- fumando crack com o comércio local ainda aberto. Na semana passada, na rua Barão do Triunfo com a General Osório, ou seja, em plena região onde a prefeitura atua, a Folha flagrou situação semelhante.O próprio secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, admitiu ontem que a cracolândia não se livrou do problema do tráfico. (...)

Esquina das ruas dos Gusmões e Conselheiro Nébias, onde consumo de drogas ocorre à luz do diaO projetoO projeto de revitalização foi iniciado em 2005, com a criação de incentivos fiscais para empresas se instalarem na região. Até 80% do investimento pode retornar para a empresa com abatimento de impostos.Matarazzo diz que 23 empresas já se habilitaram para receber o crédito (o investimento pode chegar a R$ 752 milhões), mas apenas uma se mudou.Além disso, o projeto prevê ações sociais -como o encaminhamento e tratamento de crianças e adolescentes que costumam ficar no local. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, 188 crianças foram retiradas das ruas da região nos últimos dois anos.O projeto patina principalmente pela dificuldade que a prefeitura encontra para desapropriar os imóveis. A idéia é, concluída a desapropriação, vender toda a área em um único lote para que empreiteiras se responsabilizem pela construção do novo bairro. Dois grupos já se interessaram pelo projeto.Por enquanto, apenas 15% do total que a prefeitura pretende desapropriar -onde havia pouco mais de 70 casas- já foi demolido para a construção de prédios públicos.
Comentário
As ações do poder público na cracolândia no município de São Paulo devem servir de exemplo para o governador Eduardo Campos e o prefeito João Paulo. No bairro de Santo Amaro, em Recife, projeto piloto deve ser implantado com o objetivo de minimizar as ações de grupos que traficam na localidade e, por conseqüência, afetar a oferta de drogas. Santo Amaro é, desde o final da década de 90, referência para os consumidores de drogas dos mais diversos estratos sociais. E as polícias sabem disto! Mas por que o poder público não atua nesta comunidade?
São freqüentes os conflitos de grupos criminosos no bairro. Crianças atingidas por balas perdidas também. Ás vezes, a Polícia Civil faz operações, mas depois, os seus agentes vão embora. A prefeitura construiu quadras esportivas. Mas, talvez, outras ações sociais sejam necessárias. Contudo, não bastam apenas ações no âmbito social. O poder coercitivo deve estar presente.

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