quinta-feira, 20 de março de 2008

Entrevista

Por conta dos 12 mortos em 14 dias na cidade do Cabo, o jornalista Jorge Lemos, do Jornal Tribuna Popular me entrevistou. Esta entrevista será publicada no sábado. Reproduzo a entrevista a seguir.

Entrevista com o cientista político Adriano Oliveira – Pesquisador do Instituto Mauricio de Nassau/Faculdade Maurício de Nassau. Membro do NIC/UFPE. BLOG: http://www.adrianooliveirablog.blogspot.com/

Jornal Tribuna Popular. Jornalista Jorge Lemos.



1 - A violência no Cabo de Santo Agostinho continua a crescer e levantamentos recentes da Secretaria Estadual de Defesa Social revelam que o município já é um dos mais violentos do Estado, ocupando numericamente a terceira colocação, atrás apenas de Recife e Jaboatão dos Guararapes. Qual a explicação para esse quadro de crescente desrespeito à vida humana?

Deve existir no Cabo as duas variáveis que incentivam a alta freqüência de homicídios: Tráfico de drogas, o qual ocasiona conflitos. E ação de grupos de extermínio. Não podemos desconsiderar as Turmas do Apito. Elas agem como grupos de extermínio. É claro que o homicídio de proximidade deve estar presente. Ciúmes, rixa, dívidas. Estes são motivos do crime de proximidade. Venho defendendo que ocorra pesquisa nos principais municípios de Pernambuco com o objetivo de descobrir as principais causas de homicídios. Isto precisa ser feito, pois, deste modo, as causas poderão ser enfrentadas.


2 - O que é mais urgente e que não pode deixar de ser feito para conter essa onda de violência?

Presença do Estado – poder coercitivo. E ações sociais. Estas são as duas ações que eu escolheria. Claro, existem recursos para ações sociais? Com a palavra o prefeito. E tem polícia no Cabo? Com a palavra a SDS.

3 - O Estado (Executivo), o poder Judiciário e o poder Legislativo sabem disso. Aliás, estudos de renomados organismos e de cientistas e estudiosos que indicam medidas como as que o senhor defende abarrotam os gabinetes e as salas de discussões sobre o enfrentamento à violência. O que impede ou dificulta a ação?

As vítimas. Os pobres jovens são as principais vítimas de homicídios. O raciocínio simples: um pobre morto, mais um bandido morto. Vejam! Caso morressem jovens das classes média e alta o combate ao homicídio seria prioridade. Duvida?

4 - Onde está a solução?

Na definição de prioridades, inclusive orçamentária.

5 - O que a sociedade pode fazer para colaborar com o enfrentamento à violência?

Nada. O que fazer? Juro que não sei. Pago os meus tributos, não corrompo a Polícia. Então, exijo que os serviços públicos sejam oferecidos à população com qualidade.

6 - O senhor diria que a sociedade, da maneira como se comporta, é parte do problema?

Alguns indivíduos sim, pois corrompem a Polícia. Quem corrompe a Polícia não tem legitimidade de cobrar nada dela. Os que andam desrespeitando a Lei, inclusive de trânsito, também não podem cobrar da Polícia.

7 - O delegado do Cabo, Waldemir Maximino, disse sem rodeio ao jornal Tribuna Popular, na semana passada, que cerca de 80% dos crimes estão relacionados ao tráfico de drogas. E que se a lei do silêncio continuar, a situação vai se complicar ainda mais, pois a polícia, como destacou, não pode trabalhar sozinha. A omissão da sociedade, motivada em geral pelo medo, é realmente um complicador?

Quem deve investigar é a Polícia. Por que vou denunciar um traficante? Não sou Polícia, nem promotor. O Estado tem que descobrir e não a população.

8 - As cidades pernambucanas de Santa Cruz do Capibaribe e de Carpina comemoraram no final do mês passado, cinco e quatro meses sem assassinatos, respectivamente. O prefeito de Carpina, Manoel Botafogo, atribuiu o período de paz à religiosidade do seu povo. O que o senhor diz sobre isso?

Discordo do prefeito. Mas respeito a sua religiosidade. No entanto, gostaria de saber a média de homicídios em Carpina no ano passado. Caso eu saiba, poderei afirmar que a não existência de homicídios no período referido significa alguma coisa.

9 - Qual a maior crítica que o senhor faz à ação do Governo de Pernambuco de combate à violência?

Desconsidero o Pacto pela Vida, pois as metas estabelecidas não estão sendo cumpridas. Contudo, o governo tem boas ações – terceirização das viaturas, promoções para delegados e oficiais. Porém, o governo precisa agir em torno das polícias. Elas precisam de um modelo de gestão.

10 - A seu ver, com a presente ação do estado, a matança que se assiste todos os dias tem prazo para ser controlada?

Acredito que não. Pernambuco não tem estratégia para enfrentar os homicídios.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria que o cientista político e professor Adriano. buscasse com sua larga visão, de segurança pública e ação social, altenativas que junto a população e órgãos públicos, aliviasse a carga que a sociedade amarga carrear sozinha.

Anônimo disse...

Gostaria que o cientista político e professor Adriano. buscasse com sua larga visão, de segurança pública e ação social, altenativas que junto a população e órgãos públicos, aliviasse a carga que a sociedade amarga carregar sozinha.