quinta-feira, 1 de maio de 2008

Repercussão

Jornal do Commercio, 01/05/2008
Maioria conhece vítima de homicídio Publicado em 01.05.2008

Estudo revela que 64,2% dos recifenses tinham relação com pessoa assassinada. Entre mais pobres, número chega 69,1% e na classe alta, fica em 17,5%Thiago Neuenschwander
tncavalcante@jc.com.br

Pesquisa divulgada, ontem, revelou que 64,2% dos recifenses conhecem vítimas de homicídio. A situação exposta é ainda mais alarmante quando os dados são estratificados de acordo com a renda mensal do cidadão. Entre os mais pobres, com ganhos menores a um salário mínimo (R$ 415), o índice chega a 69,1%. O número permanece alto entre aqueles que ganham até cinco salários e começa a decair entre os mais abastados, chegando a 17,5% para os que recebem acima de dez mínimos.

Os dados fazem parte do trabalho Termômetro da insegurança e vitimização na cidade do Recife, do cientista político Adriano Oliveira e do Instituto Maurício de Nassau. Eles foram apresentados a uma semana do primeiro aniversário do Pacto pela Vida, projeto lançado pelo governo estadual para tentar reduzir os alarmantes índices de violência registrados em Pernambuco. O objetivo da Secretaria de Defesa Social (SDS) era reduzir em 12% o número de homicídios no primeiro ano, mas a diminuição deverá atingir entre 7% e 8%, segundo o coordenador José Luiz Ratton, que esteve no lançamento da pesquisa.

Os subsídios para o estudo foram recolhidos em entrevistas realizadas com 795 pessoas residentes em 40 bairros de todas as áreas da capital. A pesquisa tem como mote principal o sentimento de insegurança do cidadão diante da incapacidade do poder público em conter a violência cotidiana registrada em Recife. Diversos números corroboram essa sensação, como o fato de 79,8% dos entrevistados não acreditarem que a polícia possa proteger os moradores da cidade. “Historicamente, a polícia não presta contas à sociedade. Por que então a população confiaria nela?”, questionou Adriano Oliveira. Outro dado significativo mostra que após sofrer qualquer tipo de violência, 59,7% das pessoas mudaram seus hábitos para escapar de novas ações.

Em alguns dos bairros selecionados pela pesquisa, casos de violência são facilmente encontrados entre os moradores. A comerciante Solange Barbosa, residente do bairro da Boa Vista, área central, contou a história de uma mulher que matou o próprio marido, que era policial, com a arma utilizada por ele em sua função profissional. Em Santo Amaro, mesma região, a dona-de-casa Edna Maria da Silva diz ser comum a morte de jovens da vizinhança por causa de problemas com drogas e bebidas. “Já presenciei alguns casos perto de onde moro, mas nada com a minha família”, comentou.

O trabalho conclui que, apesar de estar inserida em toda a sociedade, a violência atinge de maneira mais intensa a população de baixa renda. Crimes ligados a pessoas com ganhos elevados, como seqüestros, geralmente são resolvidos pelos grupos especializados da SDS. Para o pesquisador, a vítima de um delito não confia na instituição que tem a responsabilidade de protegê-la, uma vez que ela não se mostra eficiente para prender os bandidos. Ao mesmo tempo, a falta de confiança faz com que as pessoas não procurem a polícia, o que provoca uma discrepância entre os dados oficiais divulgados pelo Estado, e a realidade criminal existente na capital pernambucana.

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